O mel, apesar de ser uma das commodities brasileiras, não vem sendo tratado, economicamente, desta forma, prejudicando a formação de preço de venda para o consumidor.
Com a desvalorização considerável do real frente ao dólar no ano de 2021, somado a uma crescente no consumo global do produto, houve um desbalanceamento na curva de oferta e demanda, gerando, além da falta de mel, aumentos significativos de preços do produto no mercado interno.
O preço do quilo exportado passa de R$ 8,98/kg em dezembro de 2019, para R$ 19,04 em janeiro de 2021. Neste valor estão embutidos os custos logísticos, qualidade e comerciais do exportador.
Os aumentos nos preços de exportação afetam, significativamente, os valores do produto no mercado interno, acarretando, um aumento de custo para os consumidores finais.
O Brasil primeiro exporta e, o que “sobra” fica para o mercado interno.
Tabela 1. Exportação de mel brasileiro nos últimos três anos.
Ano | K US$ | Produção Ton | Ton Exportadas | US$/Kg | Cotação média US$ | R$/Kg |
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FONTE: MDIC, 2022 | ||||||
2019 | 68.384 | 45.801 | 30.039 | 2,28 | 3,94 | 8,98 |
2020 | 98.575 | 51.507 | 45.728 | 2,16 | 5,15 | 11,10 |
2021 | 163.341 | Não inform. | 47.190 | 3,46 | 5,50 | 19,04 |
A questão de aumento de preços no mercado interno está intimamente relacionada com a procura pelo mel brasileiro pelos EUA e Alemanha (tabela 2).
Historicamente nosso mel é considerado um dos melhores do mundo, de acordo com o Congresso Mundial de Apicultura (APIMONDIA), somado a prática de preços globais bem competitivos, levam o Brasil a exportar mais mel que a produção destinada aos mercados internos e externos.
Tabela 2. Principais importadores do mel brasileiro.
Países | 2021 – Valor FOB (US$) | 2021 – Quilograma Líquido |
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FONTE: MDIC, 2022 | ||
Estados Unidos | 114.722.645 | 33.312.784 |
Alemanha | 21.320.700 | 6.018.115 |
Canadá | 10.549.487 | 2.945.287 |
Austrália | 4.511.289 | 1.377.061 |
Bélgica | 3.699.207 | 1.085.184 |
Reino Unido | 2.591.721 | 734.902 |
Países Baixos (Holanda) | 2.450.440 | 728.084 |
Espanha | 885.974 | 281.760 |
Panamá | 434.971 | 127.354 |
China | 401.187 | 82.511 |
Outros | 1.773.473 | 496.887 |
Total | 163.341.094 | 47.189.929 |
Infelizmente não temos formalmente os números do consumo nacional de mel. Muita lição de casa ainda deve ser feita neste sentido, porém podemos estimar com base em registros informais a quantidade de 60 gramas de mel, em média, por cada brasileiro.
Este per capita, que em virtude da falta de políticas governamentais de incentivo de consumo e campanhas de informações sobre os benefícios do mel, não deve ter mudado em termos significativos nos últimos 5 anos, estima um consumo interno de aproximadamente 15.000 toneladas.
Nota-se, entretanto, que este consumo, é de todo o mel utilizado no Brasil, ou seja, o produto destinado a mesa dos brasileiros, a indústria de cosméticos, a indústria de ração animal, de tabaco, a indústria de laticínios, granolas, barras de cereais e a outras industrias de produtos alimentícios que utilizam o mel com ingrediente.
Apicultura Brasil | 2017 | 2018 | 2019 | 2020 | |
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FONTE: IBGE (tabela SIDRA 74) | |||||
Produção (KR$) | 514.256 | 501.959 | 492.263 | 621.447 | |
Produção (Ton) | 41.696 | 42.346 | 45.801 | 51.508 | |
Preço Médio/Kg | 12,33 | 11,85 | 10,75 | 12,07 |
Percebe-se grandes incoerências, ao levar em consideração o consumo do brasileiro (em análises pessimistas) somado as exportações no ano de 2020. Temos, por exemplo, neste ano, um déficit de mais de 11 mil toneladas no ano.
Aí fica a questão: fraude ou contrabando? Estoques remanescentes de anos anteriores não pode ser, uma vez que estamos acumulando este descasamento de produção e consumo (interno e exportação) há algum tempo.
Os números de nosso mercado em 2021 são ainda mais promissores quando tratamos sobre a escassez na produção de mel em nosso país, em virtude das exportações seguirem em forte crescimento.
Grandes oportunidades estão presentes no momento para os apicultores se profissionalizarem cada vez mais e galgarem êxitos em suas empreitadas.
Temos muito espaço ainda!!!
Daniel A. Cavalcante
CEO BALDONI